Um dos aspectos da leitura é a forma como o leitor recepciona as informações contidas na estória (ou história no caso de uma não-ficção). Cada um cria situações diversas para a mesma narrativa. Imagina cenários, personagens e, recria na mente, todo o contexto ambientado pelo autor. Mas em nenhuma outra literatura do mundo, essa imaginação pode trazer sensações tão prazerosas quanto na erótica. É um dos estilos literários mais antigos do mundo. Quinze séculos antes de Cristo, o erotismo na literatura, apareceu no Rig Veda, poema religioso indiano. Basta lembrar que, para os indianos e grande parte dos orientais, sexo é religião, eles que criaram o famoso manual do erotismo - O Kama-sutra.Na Grécia Antiga, onde todo mundo comia todo mundo, Platão escreveu O Banquete. Essa obra foi além do que conhecemos como "sexo tradicional", e demonstra o quanto ficamos caretas com o passar do tempo. Já na Idade Média o pau comeu por causa da Inquisição. Mas a literatura erótica sobreviveu à perseguição da Igreja Católica e, vejam só, pelas mãos de monges que preservaram um riquíssimo acervo.
Mas qual o limiar entre erotismo e pornografia? Nos dias atuais, onde o sexo é oferecido de bandeja, essa diferença é quase imperceptível. Erotismo deriva de Eros, o deus do amor, enquanto pornografia nasceu da palavra porno, que significa prostituta. O pornográfico é a entrega à vulgaridade, o vazio espiritual, enquanto o erótico permite ao interlocutor decifrar os sinais de sensualidade contidos no imaginário do autor. Henry Miller, Charles Bukowski, Marquês de Sade e o grandioso Nelson Rodrigues, são considerados autores pornográficos e até mesmo malditos. O que diferencia a obra desses autores é o realismo como são descritas as cenas de sexo, e a vida pregressa dos personagens criados por eles. O romantismo dá lugar ao nu e cru de estórias recheadas de putas, bêbados, traições, homossexualismo e, no caso do Marquês de Sade, a escatologia e o sofrimento físico.O Marquês de Sade junto com outro escritor, o austríaco Sacher-Masoch, deram origem aos termos sadismo e masoquismo. O sadismo do Marquês era algo cruel, por causa dos seus textos polêmicos passou boa parte da vida na prisão. Foi lá que escreveu a obra prima do bizarro - o livro "120 Dias de Sodoma". Nesta obra ele retrata, com naturalidade, cenas de sodomia (sexo anal), pedofilia e coprofilia (sexo entre fezes). Sacher-Masoch, filho de nobres, era chegado numa mulher autoritária. Em seu livro mais famoso "Vênus de Peles", ele narra sua vontade em ser criado de sua própria esposa. Apesar dessa sua queda pela chicotada, Masoch foi um amante singular. Casou-se três vezes, e teve inúmeras amantes.
Mas a literatura erótica não é feita só de dor e sofrimento. O romantismo povoou os livros de D.H. Lawrence. Nascido no século XIX no Reino Unido, Lawrence era muito apegado à mãe. Logo após a morte de sua genitora, o escritor rompeu o noivado com sua noiva na época, dizendo que ninguém mais poderia possuir sua alma, que foi dada à mãe. Depois de viver em sofrimento permanente pela perda, Lawrence conhece Frieda. Uma aristocrata peituda, casada e com três filhos pra criar. Para o escritor, o sexo era o nosso ser fundamental, em suas obras, os personagens agem acima das convenções sociais, conforme seus desejos. Seu livro mais polêmico é "O Amante de Lady Chatterley", onde ele retrata a vida da bela Constance Reid e do oficial Clifford Chatterley. Depois da lua-de-mel do jovem casal, Clifford foi chamado para a guerra, nela ele conhece sua desgraça, voltando inválido para casa. Mas, como Clifford é um homem compreensivo, ele pede a esposa que arrume um amante para satisfazê-la sexualmente.
Aqui no Brasil, um dos maiores expoentes da literatura erótica, foi Nélson Rodrigues. Seus textos eram tão perturbadores que assinava suas crônicas, no Cruzeiro (jornal dos Diários Associados), como Suzana Flag. A utilização do pseudônimo era essencial para fugir dos censores, numa época em que o Brasil passava por turbulências políticas. Ele sintetizava em seus textos o sexo e o sofrimento familiar, a tragédia sempre estava presente em suas estórias. Nelson Rodrigues faleceu em 1980, e escreveu 17 peças, 9 romances, 2 livros de contos e 4 de crônicas. Além de peças encenadas na Europa, seus textos foram adaptados para o cinema, e 21 filmes foram produzidos com a assinatura de Nelson Rodrigues.
Esses são apenas alguns dos escritores que cultuavam o sexo em suas estórias. Aqui no Brasil, ainda podemos citar a poetisa Hilda Hist, e o escritor curitibano Dalton Trevisan, que adora escrever sobre adolescentes que mal saíram do primário. Internacionalmente existem muitos outros como Apollinaire, Mailer, Anais Niin, Nabokov e Bocaccio, só para indicar bons autores da literatura erótica estrangeira. Basta procurar, numa livraria ou num sebo, e ter uma noite de prazer com sua leitura. Claro! Sem preconceitos.
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Fonte: Guia de Moteis
domingo, 20 de maio de 2007
Prazer na Literatura
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